segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Diário do Viajante – especial Volta ao Mundo


Montanhas, vulcões, mosteiros, trilhas. Da Etiópia, o casal Ivan Marques e Gabriela Gambi conta com exclusividade no blog da Friends a última aventura dessa viagem de Volta ao Mundo que começou em outubro de 2012. Mais detalhes também podem ser apreciados na página do casal, dedicada a compartilhar cada experiência e os momentos especiais dessa trajetória.

“Olá amigos da Friends in the World!

Depois de muitos safaris e uma viagem intensa de caminhão pelo interior do Quênia voltamos aqui pra contar como foi nossa viagem por um país bastante desconhecido para nós brasileiros, a Etiópia.

Quando pensamos no país, imediatamente lembramos das imagens de fome e guerra que os assolaram nos anos 80, campanhas de artistas famosos cantando pelo fim destas questões sociais e... mais nada!

Pois descobrimos que o país tem muito a oferecer para os aventureiros que ousam superar esses preconceitos e embarcar em uma viagem que desperta o lado místico, cultural e, por incrível que pareça, gastronômico de cada um de nós.

Na verdade, Gabi e eu fizemos somente a parte norte da Etiópia, num percurso chamado “circuito histórico”. Nele visita-se, normalmente, as cidades de Bahir Dar, Gonder, Aksum, Mekele e Lalibella, completando uma volta pelo norte e retornando a Addis Ababa, a capital do país.

A parte sul, no entanto, parece muito interessante e todos aqueles interessados em tribos africanas com costumes estéticos diferenciados, como alargadores de pescoço, orelha, nariz e lábios terão uma prato cheio ao explorar esse canto do país.
 
Começamos por Addis Ababa que é a capital política da África. Ali está concentrada a maioria das organizações internacionais que operam no continente, como a União Africana, agências da ONU e diversas ONGs. Por conta dessa presença internacional a cidade é bastante cosmopolita e oferece diversas opções de restaurantes, lojas e cafés.

Em seguida fomos para Bahir Dar, cidade conhecida pelo maior lago da Etiópia (e uma das fontes do rio Nilo) e seus mosteiros centenários consagrados pela igreja cristã etíope. Aqui pudemos ver como as crenças locais se misturam com trechos da bíblia, formando um universo único de mitos e lendas que contam a história do país. Os mosteiros são absolutamente sensacionais apesar das construções serem bastante simples. Todas as paredes são forradas por pinturas de passagens da bíblia etíope dispostas em salas circulares. Imperdível.

De lá, seguimos para Gonder, uma cidade a alguns quilômetros ao norte onde o foi edificado o complexo real do império etíope, centenas de anos antes de Cristo. Os reis locais dominaram a região do chifre africano por anos, cobrando tributo de todo o comércio que vinha do oriente médio e do sul da África.

Os edifícios reais são de cair o queixo não deixando nada a dever para os grandes castelos na Europa. Alguns chegam a dizer que Gonder é a Camelot etíope – o que é uma grande injustiça com a cidade, uma vez que Camelot é só ficção e Gonder, muito real! Para se ter uma ideia da riqueza desse povo em seus anos de ouro, o Rei Menelik chegou a ter um zoológico particular de feras ao lado de seu castelo, somente para mostrar a força e poder de seu reinado.

Saindo de Gonder acabamos mudando um pouco os planos após conhecermos outros mochileiros australianos que nos convenceram a fazer uma trilha de cinco dias pelas montanhas Simien, um conjunto de elevações que chegam a 4,5 mil metros de altitude.

Contra o frio, o cansaço e uma intoxicação alimentar da Gabi conquistamos os picos mais altos das Simien caminhando mais ou menos 20 km por dia. Foi bem puxado mas valeu a pena, a vista de lá de cima é inebriante! Pra quem quiser fazer esse trekking, vale organizar o tour de Gonder, onde várias agências vendem pacotes fechados contratando guias, cozinheiro, as mulas pra carregar os equipamentos do camping e o soldado que obrigatoriamente acompanha o grupo.

Depois de vencer esse enorme desafio, partimos para Aksum a cidade mais ao norte do circuito histórico. Nesse sítio estão localizados os obeliscos e tumbas dos antigos reis etíopes. Vários obeliscos marcam o local de sepultura desses antigos governantes de maneira monumental. Aqui, começamos a perceber a suave transição do “mundo africano” para o “mundo egípcio”, pois as construções começaram a se assemelhar às obras dos grandes faraós.

É também em Aksun que, segundo a lenda local, está guardada a Arca da Aliança (quem lembra do Indiana Jones???), o receptáculo das tábuas da lei de Moisés. Diz a lenda que a Rainha Sheba da Etiópia (sem comprovação histórica) foi à Israel e teve um affair com o Rei Salomão, gerando um filho, Menelik (também sem comprovação histórica) que levou a Arca para Aksum. O problema é que este tesouro bíblico fica guardado em uma sala que ninguém tem acesso, somente um monge que o guarda até o fim da vida. Enfim, acreditando ou não, vale a espiada.

De Aksum mudamos o roteiro mais uma vez pra fazer outra expedição com os amigos australianos para o local que a National Geographic descreveu como o “mais inóspito da Terra”, a Depressão Danakil.

O lugar está localizado a nordeste da capital Addis Ababa e fica 130 metros abaixo do nível do mar, comportando uma série de falhas geológicas o que fez da região um grande deserto de sal. Além do deserto interminável há ainda um vulcão ativo (Erta Ale) e uma fonte de minerais que fazem com que parte do deserto se transforme numa imensidão de cores psicodélicas.

Chegar aqui é uma encrenca danada, pois só se vai com carros 4x4 em comboio. Além das dificuldades naturais, calor de mais de 35oC em média, falta de água, terrenos vulcânicos etc, estamos falando da fronteira com a Eritréia, país que está em guerra quase constante com a Etiópia.

Apesar de todas as dificuldades, o passeio foi uma das experiências mais bacanas no país. A diversidade de paisagens (salar, vulcão, minas de minerais coloridos etc) fazem da Danakil um lugar único no mundo. Prepare-se pra passar muito calor, enfrentar estradas inexistentes, descobrir como é dormir a céu aberto e elevar seu nível paciência - pois seu carro vai pifar em algum momento – e você se sentirá em outro planeta!

Depois de enfrentar tanto perrengue e tantos lugares difíceis chegamos à conclusão que tínhamos chegado ao nosso limite com a Etiópia. Apesar de ser um país lindo, com cenários maravilhosos, ainda é complicado viajar por lá. Além disso, estávamos fisicamente cansados e como não há estrutura para mochileiros, as opções de conforto são bastante limitadas e, por consequência, bastante caras também.

Após nos esbaldarmos com os pratos típicos do país, que são uma delícia (não deixe de provar enjera, kitfo e o café) tomamos o primeiro avião para as praias cristalinas do Egito. Mas essa é a nossa próxima história, até lá!”

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